POR ISSO SOMOS FELIZES
Quantos desses céus azuis de abril e maio já foram registrados
em imagens!
Quantas letras de canções brasileiras tocaram fundo em nossa alma!
E, ainda assim, há sempre uma nova maneira de registrar os mesmos céus e de ligar as mesmas palavras.
Alguém uma vez disse que, nas tintas, nós dois éramos como
Roberto e Erasmo nas canções.
Exagero, é claro. Mas sim, formamos uma dupla daquelas em que
um entende o que outro pensa, às vezes antes até do que quem
pensou primeiro.
Foram os anos mais felizes? Falando de trabalho, sim, sem dúvida.
Às vezes acho que nem era trabalho, só expressão e alegria, coisa
de criança.
Em vidas tão breves, como são as nossas, ter um ou dois encontros como esse é ganhar na loteria do afeto. Por isso somos felizes. E aqui, neste pequeno recorte de um mundo de beleza concentrada, ele está
me ensinando de novo, como há trinta e tantos anos atrás, a olhar.
Eu me rendo, me entrego. Ele sabe tudo. É preciso, exigente e
faz transbordar amor das cores e imagens. Silêncios, memórias,
o tempo que passa lento ou rápido demais, nesga de sol, uma
ou outra pessoa que passa furtiva, uma ou outra paisagem que
se insinua.
Saber tirar proveito de cenas quase sem cor e mergulhar sem medo
em outras saturadas. Geometrias inesperadas, sombras em ângulos improváveis – tudo pontuado pelo azul do céu que sempre nos encanta.
MARCO MARIUTTI
ENGENHEIRO, ARTISTA, INDEXADOR E AMANTE DAS PLANTAS
COCRIADOR E SÓCIO DE CLOVIS NO ATELIÊ MM*CL
Instituto Moreira Salles
Rio de Janeiro, Brasil
2009