POR TANTO
Ao chegar aos 60 anos criei coragem para enfrentar o desafio de fazer um livro.
Sonho de quase todo fotógrafo, esta empreitada significa uma
enorme responsabilidade: revolver e selecionar fotos guardadas, desligar-se dos aspectos emocionais de cada imagem, buscar a objetividade da distância e, principalmente, procurar o que podia estar contido no meu olhar, descobrir se havia algo a ser revelado
que merecesse ser publicado.
Colecionador de imagens desde sempre, eu era também cobrado
pelos amigos por uma publicação das fotografias que produzi
nos últimos tempos.
Durante mais de dois anos revisitei arquivos, resgatando cliques realizados com câmeras analógicas e digitais ou celulares.
Um mergulho sem fim num labirinto de registros e memórias pessoais, entrecortado por interrupções e partidas inesperadas.
Pouco a pouco, duas questões foram surgindo nas minhas escolhas:
a reflexão sobre a passagem do tempo e as sensações diante da cor.
A etapa seguinte foi a elaboração do fio condutor e a composição
do ritmo na edição das fotos, com atenção às relações subjetivas criadas a cada página. A construção desse diálogo entre as imagens constituiria outro assunto presente ao longo do livro.
Neste Entretanto, título e respostas se materializaram diante das indagações. Contribuições de bons interlocutores foram decisivas
para enfrentar este quebra-cabeças e, prazerosamente, perceber
que as tais perguntas haviam se tornado amigas.
A publicação do livro valeria a pena.
A despeito dos olhos já meio cansados – pela procura do
enxergar, pela multiplicação das imagens no cotidiano
contemporâneo e pelo impacto dos conflitos no mundo –,
a alegria de realizar este livro e a possibilidade de encontrar
o belo e o divino continuam a me encantar.
CL
Saint-Rémy-de-Provence, verão de 2018
Home
São Paulo, Brasil
2009